Fazer Especialidade Te Faz um Especialista?
- Wendel Cordovil
- 16 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 11 de ago. de 2021
Dentre as diversos assuntos ensinados no clube de desbravadores, as especialidades ocupam um lugar especial. Elas são uma das principais fontes de conhecimento disponibilizados pelo clube e assim como interessantes, elas, também, podem se tornarem chatas.
Qual o objetivo de se ensinar especialidades no clube? Para que tantos assuntos diferentes uns dos outros? Será que essa grande sobrecarga de conteúdos levam ou capacitam o desbravador a ser um especialista no assunto estudado? Essas perguntas serão respondidas adiante e mostrará, também, como o clube deve entender essa área tão importante.
Segundo o Manual Administrativo do Clube de Desbravadores (2013, p.106), as especialidades são um dos sete pilares que sustentam um clube saudável. Elas não são o objetivo final do clube, mas são de grande importância para o aprendizado, sendo apenas uma das diversas áreas que o clube trabalha.
Apesar de se ter um Manual de Especialidades, aplicativo para facilitar o acesso ao que a especialidade exige, não há um manual especifico para o instrutor explicando como ensinar de maneira didática e atrativa essas especialidades. As orientações passadas pelo Manual Administrativo do Clube de Desbravadores são muito válidas, mas não são específicas. Ainda, há muitos clubes que sabem o que tem que fazer, mas não como fazer. Sabem o que tem que ensinar - afinal temos manual, aplicativo, etc. - , mas não sabem como ensinar. Existem algumas apostilas na internet falando de maneira especifica sobre determinadas especialidades, mas não são oficiais da Divisão Sul-Americana (DSA).
Visto que não há um suporte especifico para orientação de instrutores, já se começa perceber que as especialidades ensinadas no clube, apesar de terem essa nomenclatura, não podem tornar ninguém especialista no assunto.
O Manual de Especialidades apresenta 9 áreas, 15 mestrados, e 476 especialidades, sem contar as especialidades lançadas nos últimos anos. O próprio Manual Administrativo apresenta essas especialidades como “um conjunto de estudos rápidos de caráter exploratório e inicial sobre um assunto” (p. 115). Isso deve ser bem entendido e que fique claro que a pessoa que possui a especialidade de primeiros socorros, por exemplo, não ache que um atendimento emergencial substitui o atendimento médico, ou que alguém que possui a especialidade de salvamento de afogados substitui um “salva-vidas” profissional.
As especialidades devem ser vistas como um assunto inicial e que podem despertar um interesse maior do próprio desbravador ou Líder de se aprofundar no assunto. Quanto a isso, destaco aqui as palavras do Líder Master Daniel Ferreira, que está como regional na Missão Pará-Amapá. Ele diz: “o ensino das especialidades, bem aplicado de forma geral, gera na criança o interesse de praticar o aprendido, falar o que sabe sobre o assunto e, por fim, deixar germinando na criança agora, para que no futuro, ela se lembre disso, podendo lhe ajudar a ser um bom cidadão e, também, na escolha de uma profissão. Por exemplo, hoje sou mecânico industrial devido a especialidade de soldagem e manutenção de pequenos motores que fiz quando criança.”
A respeito do objetivo das especialidades, o Líder Master Avançado Haroldo Melo, que é coordenador de desbravadores na Associação Norte do Pará, diz: “Fazer com que o desbravador desenvolva seus conhecimentos, inteligência, vida espiritual por meio do universo que o cerca, isto é, a natureza, o mundo urbano e campestre. Também podem servir como teste vocacional na descoberta de sua profissão, além de proporcionar a este juvenil a oportunidade de ajudar a comunidade onde está inserido.”
Esses conceitos apresentados pelos líderes acima são muito importantes. Além do Manual, é interessante conhecer a opinião e visão de lideres experientes para que assim, também se possa ter uma ampla visão sobre o assunto.
A essa altura já ficou claro que fazer especialidade não torna ninguém especialista, mas que elas servem para aumentar o leque de oportunidades de aprendizado.

Agora que isso ficou entendido de maneira clara, é importante incentivar a liderança de cada clube a trabalhar as especialidades com mais carinho e atenção. Entender que elas não formam especialistas deve servir como motivação para fazer um trabalho melhor, mais pesquisado e mais didático. Os desbravadores precisam sentir que eles estão aprendendo.
Aquela velha ideia de que estudar é chato tem que ser abolida do Clube de Desbravadores imediatamente e as especialidades são ferramentas poderosas para mudar essa visão.
Se você que está lendo esse artigo, é Líder de Desbravadores, independente da função ou formação, pare agora e comece a rever como as especialidades estão sendo ensinadas no seu clube. Lembre que elas não vão formar especialistas, mas, com certeza, podem marcar positivamente a vida do seu desbravador quando bem trabalhadas. Isso depende de você, Líder!

Wendel Cordovil
Líder Master Avançado, Diretor de Comunicação Visual da Biblioteca do Desbravador, Coordenador Regional da 14ª Região na Missão Pará-Amapá.
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